segunda-feira, 30 de abril de 2018

Vinhetas da CUF

Há já algum tempo tive o prazer de adquirir estas quatro vinhetas relacionadas com a CUF. Penso que seriam utilizadas nos seus envelopes ou cartas. Serão certamente dos anos 30 ou 40 pelo tipo de mensagem inscrita. Contudo não deixam de ser um belissimo testemunho de um pensamento e de uma época. 



segunda-feira, 9 de abril de 2018

Saca de Nitrato do Chile

Em finais do século XIX, inícios de XX, o Chile tinha uma abundante reserva de um químico precioso: o Nitrato de Sódio, que à època era também designado por Ouro Branco ou Salitre. É um composto químico, cristalino inodoro e incolor. É solúvel com água, álcool e amónia liquida. Usado maioritariamente como fertilizante agrícola e para o fabrico de explosivos, o Chile começou a exportar este mineral para a Europa na década de 1820. O seu valor de mercado e importância foram crescendo, tendo levado mesmo a uma disputa que ficou conhecida pela "Guerra do Pacifico" (também conhecida por Guerra do Salitre) que decorreu entre 1879 e 1883. As razões deste conflito centravam-se nos territórios da região do Deserto do Atacama, rico nesse mineral, levando a uma contenda por parte do Chile, Perú e a Bolívia, da qual os chilenos saíram vitoriosos.  


Desde cedo, a empresa proprietária da marca Nitrato do Chile apostou forte na propaganda, como forma de aumentar os seus lucros. À época a publicidade estava ainda na sua primeira infância, contudo quem soubesse criar uma imagem marcante, que se destacasse da concorrência era meio caminho andado para o sucesso. Na Península Ibérica dos anos 30, a sua estratégia publicitária, passou por colocar painéis de azulejo (material mais barato e com muita durabilidade) cuidadosamente colocados à entrada das localidades, ou lugares centrais para que a sua mensagem chegasse a todos.

Painel Publicitário

Quem percorra o país rural de lés-a-lés pela sua rede de estradas nacionais, irá encontrar inúmeros painéis publicitários do Nitrato do Chile, que ainda hoje resistem ao tempo e às mudanças do mundo. Aqui como na vizinha Espanha, o anúncio a estre produto acabou por tornar-se num dos ícones publicitários do século XX.

Botoeira do Nitrato do Chile
Mas sempre me surgiu a interrogação: "Quem teria sido o criador deste símbolo?" Aparentemente tudo leva a crer que a ideia terá surgido pela mão de Adolfo López-Durán Lozano. Este estudante madrileno de arquitectura terá sido convidado a pintar um anuncio por um professor do seu curso que presumivelmente teria uma ligação com a empresa chilena de nitratos. A empresa gostou do resultado final, e assim nasceu o homem com chapéu de abas largas sentado em cima de um cavalo que fez parte do imaginário e do quotidiano de tantas e tantas gerações. 

Em Portugal a Companhia União Fabril foi desde cedo o distribuidor oficial do Nitrato do Chile e quem consulte, revistas de agricultura como a "Gazeta das Aldeias", irá certamente encontrar um anúncio a referir tal facto. Veja-se por exemplo este lançado logo depois do final da II Guerra Mundial: 



A saca de juta que aqui vos apresento é já bem mais recente, devendo datar de finais do anos 60 mas que como podem observar se encontra em optimo estado de conservação:

                               
   

                                                                                                                                                             
Anúncio de 1969 ao Produto

                                                                                         
Pegando no "Simposium Agro-Pecuário" lançado em 1969 vamos ver o que ele nos diz sobre o Nitrato de Sódio do Chile:

Composição: Fertilizante azotado natural, de fórmula química NaNO3, contendo 16% de azoto sob a forma nítrica, além de pequenas quantidades de micronutrientes, dos quais se destaca o boro.

Indicações: Pelo facto de conter o azoto sob a forma nítrica, é prontamente assimilado pelas plantas, às quais concede vigor imediato. Convém, em geral, a todas as terras e pode empregar-se em todas as culturas, no começo da sua vegetação, ou em cobertura.
Pode misturar-se em qualquer altura com os adubos potássicos, e com o superfosfato de cal, na altura da aplicação.

Doses: Desde 100 a 700 Kg por hectare

Apresentação: Em sacos de juta com 50 Kg

sábado, 7 de abril de 2018

O lançamento à agua do navio «São Macário»

Enquanto meio mundo se digladiava num terrível conflito à escala mundial, Portugal felizmente via a guerra a passar-lhe ao lado. Porém os ecos da guerra faziam-se sentir na vida de todos, racionamento de bens alimentares, escassez de matérias-primas, o ambiente é tenso e surgem greves na cintura industrial de Lisboa. Porém nem tudo são nuvens negras no horizonte a comprová-lo estão as palavras que se seguem.


Cartão de Convite do Estaleiro Naval da CUF

O dia 26 de Janeiro de 1944 nasceu soalheiro, fazendo certamente esboçar sorrisos de contentamento por ente os responsáveis da CUF e da Sociedade Geral. No Estaleiro Naval da A.G.P.L. (arrendado à CUF desde Janeiro de 1937) fazem-se os últimos preparativos para a cerimónia de lançamento de mais um navio à água: o São Macário. Junto à sua proa foram erguidas duas tribunas, uma para os elementos oficiais e outra destinada aos convidados. 


Vista Aérea do Estaleiro da A.G.P.L.

Pouco depois das 15 horas, uma força de marinha com a respectiva banda de musica alinhou a um dos lados da porta leste do Estaleiro, junto à Central da Carris (onde hoje se encontra a Adega do Kais). Foram muitos os convidados que, pouco a pouco, iam chegando ao local da cerimónia: Ministros da Marinha, Economia e Colónias, sub-secretários de Estado das Obras Públicas e do Comércio, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Major General da Armada, Governador Militar de Lisboa, Presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante (que à época era presidida por Américo Thomaz), directores das Companhias Colonial e Nacional de Navegação, (Bernardino Correia e Jaime Thompson) Carregadores Açoreanos (eng. Gago Medeiros), Empresa Insulana de Navegação (Vasco Bensaúde) para além de uma lista mais extensa que seria de fastidiosa leitura. Os convidados foram recebidos por D. Manuel de Mello, Aulânio Lobo (gerente da Sociedade Geral), Vasco de Mello (Director do Estaleiro). eng. Sá Nogueira (Administrador do Porto de Lisboa) engs. Sousa Mendes, Américo Rodrigues, Almiro Martins e mestres Peres e Ramos que tomaram parte na direcção dos trabalhos de construção do «São Macário».
  ÀS 16 horas em ponto chegou o General Carmona acompanhado do general Amílcar Mota e do capitão Carvalho Nunes da casa militar da Presidência. Depois de passada a respectiva revista à guarda de honra, o Chefe de Estado subiu á tribuna onde a convite de D. Manuel de Mello, o General Carmona deu com um pequeno martelo a pancada no aparelho que impeliu a garrafa de champagne contra o navio, fazendo-o deslizar pela carreira de construção até à agua.


Carmona no momento de impelir a garrafa de champanhe contra o navio



Por entre salvas de palmas, o toque das sereias dos navios e «A Portuguesa» tocada pela banda da Armada, o «São Macário», desliza suavemente pelas calhas da carreira até às águas do Tejo. Os operários do estaleiro que se encontravam a bordo do navio agitavam os seus bonés em sinal de regozijo.


Foto do lançamento à água do «São Macário»


De seguida D. Manuel de Mello usou da palavra começando o seu discurso com estas interessantes palavras:


D. Manuel de Mello discursando

"Ao tomar a C.U.F., em 1 de Janeiro de 1937, posse da exploração dos estaleiros da Administração Geral do Porto de Lisboa, o sr. Alfredo da Silva, meu saudoso sogro, espirito da elite, ao qual devem todas as industrias do país e que à construção naval se dedicou com entusiasmo, tendo sido nos estaleiros do Barreiro o iniciador em Portugal da construção de navios em ferro..."


Deixem-me abrir aqui um parenteses para referir que de facto este estaleiro existiu, localizado no porto privativo do Complexo da CUF no Barreiro. Foi criado com o fito de dar apoio à emergente frota da Sociedade Geral, sendo ali fabricados rebocadores (como o Estoril em 1931) e navios (como o Costeiro II em 1933, sendo à época o maior navio mercante em ferro construído em Portugal). Em 1937 com a concessão do Estaleiro do Porto de Lisboa à CUF, as suas actividades cessam, sendo transferidas na totalidade para a Rocha Conde de Óbidos.

 Mais à frente no seu discurso D. Manuel de Mello irá afirmar que Portugal "...precisa na realidade de aumentar a sua frota mercante. Todas as províncias ultramarinas necessitam contacto directo e frequente com a Metrópole. É indispensável que a bandeira portuguesa volte a flutuar nos barcos que hão-de aproar à India, a Macau, Timor e também às nações onde temos colónias populacionais importantes, como o Brasil e os Estados Unidos da América do Norte. 
Alguma coisa têm feito já os armadores no que se refere ao aumento das frotas. É, porém pouco por enquanto, para o necessário. Mas mais não era possível fazer. 
Os recursos são poucos e a Marinha Mercante portuguesa não se tem aproveitado da guerra para amealhar fartos proventos. 
Permito-me em nome dos armadores...pedir a V. Exa., sr. Presidente e a V. Exas. srs. Ministros que olhem para a Marinha Mercante não só com o carinho posto em tudo quanto é de interesse nacional, mas que a tratem com desvêlo e os cuidados especiais que merece, a um pai, o filho doente.
Muito doente mesmo.
À insuficiente mas incansável Marinha Mercante nacional se deve, na hora difícil e atribulada que atravessamos, ter proporcionado ao país, numa faina esforçada e constante, parte do indispensável à nossa alimentação.
Já por essa demonstrada insuficiência, já pelo trabalho aniquilante que se lhe tem exigido, impõe-se a construção de mais barcos, construção que deve ser levada a efeito em Portugal, desde que tenhamos operários e engenheiros competentes. 
Terão de modificar-se os estaleiros, designadamente este da Administração do Porto de Lisboa, para que seja possível construírem-se navios de maior tonelagem do que até aqui, mas e desideratum nacional do desenvolvimento da frota mercante portuguesa só se conseguirá desde que se restabeleça, mas em condições interessantes, um subsídio à construção, aliviando-a também de encargos que sobre ela hoje pesam."

Estas satisfações seriam concedidas aos armadores no ano seguinte com o chamado Despacho 100 da autoria de Américo Thomaz então Ministro da Marinha. 

No final do seu discurso D. Manuel de Mello irá justificar o nome dado ao navio: "Tomou este novo barco o nome de «São Macário», santo patrono dos caldeireiros e, assim prestamos homenagem ao esforço e boa vontade demonstrada pelos operários nas construções que temos realizado neste estaleiro". 





Este navio esteve ao serviço da Sociedade Geral até 1972, ano em que transita para a CNN com a fusão destas duas companhias. Em 1974 será vendido à Componave sendo rebaptizado de «Silmar»